quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Cortesia em extinção

Vi no blog do Luiz Américo um post dele comemorando, como quem acha um tesouro, o fato de a pizzaria Brascatta cobrar apenas R$ 5 pelo seu serviço de valet. Em tempos em que não basta pagar R$ 200 por casal por qualquer refeição razoável na cidade, é preciso ainda bancar outros R$ 10 (ou R$ 12, ou R$ 15, como muitos estão agora, após recente “reajuste”), não só entendo como compartilho.

E o que dizer dos valets-cortesia? Lembro que quando comecei a ir a restaurantes com meus pais, avós e tios, o serviço do manobrista era uma gentileza do restaurante para os clientes que ali iriam deixar um belo valor pela refeição. E isso em uma época em que estacionar na rua não era um transtorno (nem por falta de vaga, nem por risco de assalto). Não era uma necessidade, era um agrado.

São poucos – pouquíssimos! – os lugares que ainda mantêm tal prática e acho que eles merecem ser lembrados pela atitude cordial, tão fora de moda hoje em dia. Se ser gentil não parece atraente o suficiente aos donos de estabelecimentos, vale lembrar que esses pequenos mimos são aquilo que, muitas vezes, faz o cliente voltar.

Quando quero tomar café da manhã, ou tomar um lanchinho à tarde na Vila Madalena, nem penso duas vezes: vou direto para a
St. Etienne, onde sei que há o serviço gratuito de manobristas. Acho a padaria cara para o que serve e os produtos não me surpreendem. Mas o valet, num bairro infernal de estacionar, é gratuito. E eu volto.

E hoje fui jantar no
Tanuki que também – pelo menos até o mês passado – tinha um rapaz que manobrava o carro dos clientes e estacionava (às vezes ali em frente mesmo), sem que o restaurante cobrasse nada por isso. Hoje, deixamos o carro com o mesmo rapaz, que, depois que nos sentamos, nos alcançou afobado. “Vocês esqueceram o ticket”. Ok, entendido, perdemos mais um cortês. Mas, para não ficar só na reclamação, compactuo com Luiz Américo e comemoro: pelo menos o valor cobrado foi de R$ 5.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Em busca do suco perfeito

Tem uma coisa que eu preciso confessar que me mata de inveja de cariocas e soteropolitanos (além de, obviamente, as praias, o ritmo, o visual): as barracas de sucos. Porque aqui em São Paulo vira e mexe e alguém abre uma sucaria, eu fico toda animada, vou lá e...não é a mesma coisa.

Na sexta passada saiu, anexado à Folha de S. Paulo , o Guia de Salvador - que pelo segundo ano participei da elaboração. Fazer esse tipo de trabalho é sempre sinônimo de correria, ingestão de porcarias e noites mal dormidas, mas é uma delícia. Além de sair da rotina você encontra coisas incríveis como, por exemplo, casas de sucos de tomar de joelhos.

Nessa apuração do Guia, visitei vários restaurantes e almocei em lugares incríveis como o Paraíso Tropical (tema do próximo post, talvez), onde comi como um marajá (uma rainha não comeria tanto). No cair da noite, depois da corridinha na orla (me perdoem os corredores, mas só com uma orla ao lado uma corrida é, de fato, prazerosa), seguia para o Suco 24 Horas no Ar para fechar o dia com um suco em vez de jantar e dar uma compensada.

Ao contrário das de SP, as sucarias ali são feias (ok, no Rio as de Ipanema são bonitas), mal têm um banquinho para você sentar (em muitas, não tem mesmo) e o lugar tem sempre aquela pinta de pé-sujo. Mas olha que genial: os sucos, sempre com 500ml, são feitos com frutas frescas ou com polpa congelada e batidos com pouquíssima água. O resultado é um suco bem grosso, quase uma tigela, como a de açaí, e praticamente vale por uma refeição (valeria se eu tivesse apetite de rainha, não de marajá), pelo justíssimo preço de R$ 3,50 a R$ 4. Uma fórmula simples, que funciona. E ninguém faz por aqui, sei lá porquê.

Para tornar tudo mais gostoso, há infinitos sabores, todos difíceis de se encontrar em São Paulo: graviola, cajá, jenipapo, biribiri e o imbatível cupuaçu (no Rio eles têm o de pinha, um crime!). Tomei todos os dias no jantar, sempre acompanhado por um sandubinha ou por uma tapioca do Biju das Estrelas (fica ao lado do Suco 24hs da Barra).

E então surge o drama: como voltar deste hábito e se conformar que não vai encontrar uma casa de sucos com estas características e ainda perto de sua casa/trabalho enquanto cariocas e soteropolitanos têm uma a cada esquina? Eu não me conformei. E desde então dei início a uma busca pelo suco paulistano perfeito.

Logo na volta fui no Cereal Brasil, um restaurante natureba estilo bufê que abriu há poucos meses na Rodésia, na Vila Madalena, bairro onde moro. Eu não estava nem aí para a comida, mas me animei quando vi o display na mesa “SUCO DE FRUTAS EXÓTICAS”. Lá estava o cupuaçu na lista. “Dá um de cupuaçu urgente moça!”. Mas que judiação. Estava gostosinho (quando um cupuaçu vai ser ruim, me diga?), mas não tão gelado, não tão espesso. Só...ok.


Detalhe da comanda ao lado do suco da Cereal Brasil: bufê “avonts - R$ 17,50” (adoro)


A busca rendeu outras descobertas, algumas bem boas, que ficam para outros posts. E se alguém ficar sabendo de uma sucaria sensacional, destas de tomar o suco e acender uma vela, por favor me avise que eu estou precisando.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O sorvete do ursinho

Lá em casa foi uma festa quando a Stuzzi abriu. É que eu moro ali perto e comemorei o fato de que, finalmente, haveria um bom café para se tomar à distância de alguns poucos quarteirões a pé. Naquela época eu achava que a casa era uma cafeteria e, por mais que eu ame café, fiquei ainda mais feliz quando descobri que se tratava, na verdade, de uma sorveteria. Sorte a minha, porque o café de lá é Orfeu, mas as moças não sabem tirar de jeito nenhum. Já insisti em tomar umas dez vezes e, sem exagero, em todas o café veio queimado. (Horror a café queimado).

Já o sorvete foi amor à primeira vista. Tomei o de pistache, que tem cor de pistache de verdade, e fiquei enlouquecida. Na segunda visita, depois que a moça pacientemente deu uma pazinha com quase todos os sabores da vitrine para eu experimentar (abençoado seja quem inventou este “procedimento padrão” em sorveterias), fui no mesmo. O pistache era bom demais para não ser comido. Mas desta vez, surpresa: não estava tão bom quanto na primeira. Achei que era impressão, mas não. Depois de muitas idas à Stuzzi, confirmei o fato de que os sorvetes são mesmo irregulares. Nunca esteve ruim, vale falar, mas são duas categorias bem diferentes de qualidade: “maravilhoso” e “bom”. E, pelo menos eu, quando estou esperando algo maravilhoso, o “bom” chega a dar raiva.

E foi nessas de experimentar o sorvete da vitrine e constatar que ele estava no dia “bom” que resolvi abrir uma geladeirinha simpática que tem um ursinho polar que fica ali no canto, meio coadjuvante. A marca da geladeira é Diletto, que até então eu nunca tinha ouvido falar. Fiquei vasculhando e eram picolés (gosto mais que de sorvete de massa!), alguns sorbets e outros de sabores como gianduia e pistache. Achei caro (R$ 5,50 o picolé, que é do tamanho de um Frutare da Kibon), mas achei o sabor maravilhoso (comi o gianduia).






Depois, em um almoço, fiquei sabendo que a Stuzzi foi uma espécie de ponto teste para o sorvete do ursinho, que deve em breve ser distribuído em várias lojas e cafés (até agora já chegou ao Buffet Fasano e ao Empório Santa Luzia). Vale ressaltar que a Diletto é novidade no Brasil, mas a empresa é das antigas e existe na Itália desde 1922.







Semana passada recebi a informação confirmada por um release que explicava um pouco mais sobre o produto e seus sabores – que, aliás, têm uns nomes bem engraçados.

“Excelso Picolé de Framboesa (elaborado com frutas orgânicas cultivadas da Chacra Rio Negro, na Patagônia, isentas de agrotóxicos, pois a cordilheira impossibilita o contato com as pragas)

Celestial Picolé de Morango (sorbet extremamente rico, com 40% de fruta em sua composição)

Faiscante Picolé Sabor Limão Siciliano

Épico Picolé de Abacaxi

Pomposo Picolé Sabor Tiramisu (sorvete de Mascarpone com café e um toque de vinho Marsala, reproduzindo fielmente o sabor da mais tradicional sobremesa italiana);

Esfuziante Picolé de Chocolate Italiano (produzido a partir de um blend, super premiado na Europa, de cinco diferentes tipos de cacau)

Olímpico Picolé de Pistache (produzido com pistache da fazenda Podere di Bronte, próximo ao vilarejo de Bronte, aos pés do vulcão Etna, o melhor solo do mundo para seu cultivo)

Suntuoso Picolé de Coco da Malásia

Majestoso Picolé de Menta com cobertura de chocolate belga (o principal ingrediente desse sorvete é o blend italiano produzido com 17 espécies de ervas do gênero “mentha”, coberto com chocolate belga meio amargo)

Augusto Picolé de Gianduia com cobertura de chocolate belga e avelã.”





Ah, tá explicado o preço! Neste caso, “suntuoso” cai como uma luva para o nome do sorvete no palito. Mesmo assim, vale a investida como “picolé de fim de semana”. E, dica: o de pistache é o melhor (e uma bela alternativa para o dia “bom” da Stuzzi).

Stuzzi - R. Paulistânia, 450, Vila Madalena. Telefone: 3816-0279. Segunda a sábado: 9h às 20h. Domingo: 12h às 20h.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Tudo pode virar hambúrguer

Como semana passada estive em Salvador, para fazer o Guia da Folha especial do Carnaval (sai junto com o jornal, nas edições de São Paulo e Salvador), acabou que não postei aqui o último vídeo do Boa Vida, que está com um tema bem suculento: hambúrgueres. No programa, conversei com a simpática (e super com jeito para vídeo) Débora Damin, proprietária da Matriz Hamburgueria, que ensinou a fazer uns sandubas diferentões, como o de picanha e o de bacalhau.

Clique aqui para assistir ao vídeo.




Olha, vou fazer uma confissão: não sou muito chegada em hambúrguer com chiquê. Sei que qualquer receita, até um trivial hambúrguer, fica melhor quando feita com bons ingredientes. Mas não consigo conceber sair para almoçar um lanche, com batatas fritas, bebida e um sorvete e gastar preço de prato (em restaurante dos bons). Apesar disso, tenho que reconhecer que fico feliz quando vejo sanduicherias se esmerando em oferecer produtos melhores e receitas criativas. Tudo fica ainda mais desafiador quando levamos em conta que, seja lá o que for inventado, deve ficar limitado ao espaço compreendido entre duas fatias de pão.

O bacana da matéria com a Débora é que ela incentiva muito isso, inclusive para o cidadão fazer em casa. Ela explicou que dá para fazer um hambúrguer de praticamente tudo ou com acento de quase qualquer linha gastronômica. Exemplificou com a adaptação árabe que ela fez do sanduíche, quando misturou castanhas e hortelã à carne. Seguindo esta idéia, fiquei brincando de montar versões na cabeça. Me diverti pensando em uma “francesa” que levasse carne de cordeiro, mostarda Dijon ou Lancienne e cebolinhas caramelizadas. Também fiquei com água na boca de imaginar em um hambúrguer mineiro, com carne de costelinha, queijo minas e couve frita, com um potinho de tutu e outro de pimenta bem braba de guarnição. Será que vingava?

Sem grandes pretensões gastronômicas, dá para brincar de transformar qualquer coisa no sanduíche. Em um rompante de ousadia, a própria Débora fez do bacalhau um hambúrguer com espécie de bolão de bacalhau frito, meio achatadinho, que vai no meio do pão. Eu achei gostoso, mas bem pesado, preferi o de picanha, que por ser uma carne bem gordurosa dá um dos hambúrgueres mais saborosos que existem.

Aliás, seja qual for sua invenção, a dica mor da Débora é essa: gordura. Para ter hambúrguer é preciso ter liga. E, logo, gordura. Mas e nos casos dos vegetarianos? Bem, aí se você for fazer um hambúrguer de soja com legumes ou mesmo quinoa (próxima empreitada da Matriz, segundo ela), vale o truque: meia batata cozida e amassada dá conta de agregar tudo.




Matriz Hamburgueria - Mario Ferraz, 404, Itaim Bibi, São Paulo. Tel.: 0/xx11 3167- 0648.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O bar mais bonito do mundo

Desculpe-me o Salommão, que fica naquele casarão antigo lindo e que eu sempre indico para quando um amigo (ou amiga) vai ter um primeiro encontro. Peço desculpas também ao Anhanguera, com seus lustres maravilhosos, que toda vez que eu vejo repito que ainda vou ter um igual. Desculpa Drakes, porque seu jardim é mesmo muito alto astral (com o perdão da bicho-grilice). Desculpa Conspiração do Jogo, afinal sempre defendo uma ida à Cantareira só para ficar nas dependências do Velhão - para sentir cheiro de mato e curtir o clima de antiquário. Desculpe-me Hugo, porque, dos botecos, você realmente é o mais lindinho. Peço clemência até mesmo a você, Skye, que tem uma vista sensacional de São Paulo, esta cidade da qual a gente reclama muito, mas ama de paixão. Aproveito e peço perdão também à minha cidade: desculpe-me São Paulo. Aliás, desculpem-me todas as cidades brasileiras e todas as cidades de todos os países, incluindo aqueles que nunca visitei e que nunca vou visitar...



...mas o bar mais bonito do mundo fica em Salvador e se chama Bar da Ponta
Os petiscos não são exatamente originais nem tão variados, o preço é um pouco salgado. Mas e daí? O bar criado sobre um hangar desativado tem assinatura do arquiteto David Bastos e é cercado de vidro por todos os lados. O resultado é um visual de babar, principalmente no pôr-do-sol, como no momento desta foto clicada por Edson Ruiz.

Ideal para: happy-hours, ir a dois, ir sozinho, fazer pedido de namoro/casamento, comunicar uma gravidez, terminar um relacionamento, contratar num funcionário, comemorar (qualquer coisa), realizar uma demissão. Explica-se: a vista lindíssima é tão perfeitamente capaz de emoldurar boas notícias, como, no caso das más, mostrar que há muito mais nessa terrinha de meu Deus do que o tema da conversa para tanto se lamentar.
Bar da Ponta - Avenida Contorno, 2 - Praça dos Tupinambás, 0/xx/71/ 3326-2211