quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Elídio, um bar “de família”

Há duas semanas fui visitar a ala da zona leste da família e tive a ideia de emendar uma ida ao Elídio. E estufei o peito na hora de falar para os meus tios, residentes da região há mais de meio-século, que se trava de um botequim tradicionalíssimo, que era famoso pelos acepipes, que tinha moela de frango (eu e as moelas...) etc. Fomos em comitiva e, “niqui” chegamos, meu queixo caiu: o Elídio, meus amigos, não é mais um boteco clássico da Mooca. É uma enorme mesa de acepipes travestida de pizzaria chique - a exemplo de várias que existem no bairro.

Eu não sei o que aconteceu para que o seu Elídio achasse que era uma boa dar um banho de loja no seu botequim (seria influência das próprias pizzarias, que passam aquele ar de negócio próspero?). O que sei é que a brancura das paredes e a limpeza do chão me incomodaram muito mais que o fato de que as paredes só têm (inúmeras) fotos do São Paulo (porque o seu Elídio é são-paulino) e do Palmeiras (porque ali é a Mooca e o seu Elídio é, acima de tudo, um bom comerciante) e nem uminha do coringão. Mas não foi só a ambientação em branco gritante. Todos os elementos de pizzaria moderna agora estão lá: pé-direito alto, iluminação claríssima, mesas espaçadas. Por que??? POR QUE?

Seu Leopoldo (aka meu tio), degustando um pastel (atenção para o pé-direito alto)


Óbvio que a nova configuração trouxe uma frequência mais familiar. Nas mesas, pais, crianças e casais de namorados jantavam os petisquinhos, muitos bebendo refrigerante mesmo. Tenho minhas dúvidas se a reforma foi positiva para o caixa da casa: em pleno sábado de verão o bar tinha uns 60% de suas mesas livres. Revolta? Boicote? De qualquer forma, achei bem estranho.

Quando saímos, por volta da meia-noite, uma cordinha na escada do mezanino indicava que não era mais para ninguém subir. Eu não sei qual era o horário de funcionamento pré-reforma, mas na hora me ocorreu que aquilo era muito claro: como uma pizzaria, o Elídio fecha cedo.

Tirando esse choque, quase tudo estava ótimo: o balcão de acepipes continua farto e tudo estava saboroso (exceto o chorizo, que deixei de lado e meu tio também), a porçãozinha de rã a dorê estava uma delícia e o chope, tirado à perfeição. O Brahma Black de lá, devo reconhecer, é o melhor que já tomei.

Quando resolvemos pedir pasteizinhos (vendidos por unidade), outra boa surpresa: maiores que os de porções e menores que os vendidos na feira, eles vêm embalados por unidade com o sabor carimbado no saquinho. Achei um mimo. Claro que um sabor veio trocado, mas isso faz parte da diversão. Nada que roube a cena de toda aquela desconfiguração.

Pastéis pedidos individualmente, com carimbo indicando o sabor


Elídio Bar - R. Isabel Dias, 57 - Mooca - Leste. Telefone: 2966-5805.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Clássicos e novos petiscos do Mercadão

E semana passada, com aquela história de fazer o Boa Vida sobre os petiscos mais tradicionais da cidade, decidimos gravar só no Mercadão. É que a lista dos notórios é imensa e precisaríamos de muito mais do que nossos usuais quatro minutos para contemplar todos eles. Então, para não cometer nenhuma injustiça, ficamos lá na rua Cantareira mesmo.

Clique aqui para ver o vídeo.


E óbvio que o foco foram os clássicos sanduiches de mortadela e pastel de bacalhau. Acho que essa será uma eterna pauta de aniversário da cidade, porque sempre é novidade para alguns, e nostalgia para outros. Novidade + nostalgia = pauta, bem sabemos. Encontrei no dia da matéria várias pessoas que estavam experimentando o sanduba e o pastel pela primeira vez e isso é sempre curioso.

Teve até uma senhora que ficou muito indignada, porque o pastel não era "igual ao da foto" que estampa a parede do bar. Ela chegou a vir falar comigo. "Você tem que denunciar isso". Bem, não que ela não tenha razão, mas se todas as fotos diferentes de petiscos reais fossem denunciadas, acho que o Procon parava. Sugeri que ela falasse com o filho do fundador, que estava por ali dando entrevista. Reclamação feita, ela ganhou um outro pastel. "Obrigada pela dica, valeu a pena", depois ela veio falar, limpando a boca com o guardanapo. Acho que mais que a foto, o que a deixou pau da vida foi que queria ter comido mais. E comeu.

Outro detalhe da matéria foi que o tradicional Hocca (ponto de venda do mais famoso pastel de bacalhau e sanduba do mercado) agora está com petisco novo (na real há mais ou menos seis meses), que é o pastel de camarão rei. A proposta é que o pastel tenha camarão de verdade, ao contrário de empadas e outros quitutes feitos com o crustáceo, onde você só tem uma leve lembrança do ingrediente. E o camarão não chega a ser rei, isso é bem verdade, mas pelo menos abunda o recheio. Vale a pena provar.


Hocca Bar - Mercado Central, rua G-7, mezanino - 5. Tel.: 3227.6938

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Deixe estar jacaré...

E olhando aqui pros textos anteriores, vi que esqueci de comentar no post do Plínio que lá eles também estão servindo porção de jacaré. Caaaaalma seu Leopoldo! Antes de ligar para o Greenpeace ou para a sociedade protetora dos animais, fique sabendo que carne de jacaré agora é legal. Quer dizer, legal mesmo não é, mas está legalizada. É que faz uns seis meses que três criadouros de jacaré no Mato Grosso tiveram o abate autorizado. E agora a carne vem aparecendo, aos poucos, na capital paulista.

Eu mesma não comi no Plínio nem em outro bar (dias atrás me falaram de um outro que está servindo e hoje fiz de tudo para lembrar o nome, mas a memória não alcança. Alguém sabe?). Mas há uns quatro meses fiz uma matéria gigante para a Maxim sobre churrasco, que incluía carnes exóticas. Naquela época não tinha fornecedor de varejo que estivesse vendendo o jacaré por aqui, mas falei com o distribuidor da Crocrijapan, que me descolou um lombo.

Olha, se você já ouviu aquele papo que jacaré tem consistência de frango e gosto de peixe, fique sabendo que é isso mesmo. E eu inventei de fazer na churrasqueira, conforme o camarada me ensinou, enrolado no alumínio e tal e fica, assim, não exatamente uma delícia. É porque o jacaré é um atleta do mundo animal, não tem nada de gordura, então na brasa ele fica meio durinho.

Mais vale fazer a dorê para dar um pouquinho mais de graça pro bichinho. Ou então como manda uma das várias receitas de petiscos que vieram em um folhetinho junto com o lombo. São sugestões inimagináveis, como empadinha (foto abaixo), croquete, pizza e quibe de jacaré. Todas podem ser vistas neste link aqui.

Empadinha de jacaré: quem te viu quem te vê!

Blog é obrigatório no Folhateen

Mudando de assunto pá-pum: resolvi voltar aos tempos que escrevia para o público jovem (fui colaboradora da Capricho durante uns quatro anos, além de ter sido editora da área jovem do iG por um tempão) e colaborei para a Folhateen com a matéria que saiu hoje na capa do caderno.

A pauta é sobre como ter blog está cada vez mais importante para descolar o primeiro estágio/trampo. Fiquei impressionada como as agências estão investindo nisso (e olha que eu mesma já fiz o tal do "blog content").

Segue abaixo a primeira parte, com link para a continuação (exclusiva para assinantes da Folha ou do UOL).




Leia a matéria completa clicando aqui (exclusivo para assinantes UOL e/ou Folha).

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Qual petisco tem a cara de São Paulo?

E daí que hoje não vamos publicar um vídeo no Boa Vida excepcionalmente por conta dos especiais do fim de semana da Folha Online. Então aqui vai o link do mais recente, em que eu entrevisto a gerente d'A Loja do Chá, Patrícia Moraes, que fala sobre a confusão que existe entre os chás (todos feitos de uma única planta) e as infusões (como as de camomila, erva-doce, etc), além de dar dicas de drinques e chás gelados para o verão.


Mas semana que vem tem programinha mais longo de aniversário da cidade. O quadro vai mostrar os petiscos, bebidas e afins que são a marca registrada de São Paulo (e agora, marca-registrada ou marca registrada? Aposto que "depende").



A dúvida é: quais são esses petiscos/bebidas símbolos? O Bauru do Ponto Chic? O sanduba de mortadela do mercadão? O bolinho de bacalhau do Hocca Bar? O Caju Amigo? A coxinha do Frangó? O churros da Mooca (ouvi dizer que fechou, procede?)? Sugestões?



foto do sandubaço de mortadela "roubada" do site Brasil Sabor

A traíra do Plínio

Dica da semana: quando bater vontade de comer um peixinho na companhia de uma cerveja, toca para o bar do Plínio, na ZN. Neste bar eles vendem diversos peixes do Pantanal, mas nenhum bate a traíra. No findi passado pedi para vir grelhada em vez de frita (né? coisa de menina...) e já cortada para aperitivo. Veio numa travessa imensa que dá para uns três, quatro comerem, com alface, cebola, palmito e outros agregados. E o que importa mesmo, a traíra, é um peixe bem gordinho e saborosíssimo, que ainda estava bem fresco.

É uma boa pra uma noite de sexta de calor como a de hoje está prometendo, né não?

Plínio Choperia - R. Bernardino Fanganiello, 458 - Casa Verde - Norte. Telefone: 3857-0999

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O novo menu da Dona Onça

Hoje fui almoçar – e acabei passando a tarde toda – no Dona Onça. Sou fã declarada do lugar por vários motivos: adoro o Copan, ali a cerveja e a cachaça são tratadas com o devido respeito, além de oferecer petiscos que os novos bares simplesmente costumam ignorar, como fígado acebolado e moela. Adoro.

E eis que hoje, num almoço para tratar de outros assuntos, conheci o casal Rueda. Olha, dá gosto de ver. É evidente a paixão com que os dois tocam o negócio, como as criações surgem naturalmente e como a empolgação com cada detalhe transparece que aquilo é um gosto – e não só um ofício. Como o próprio Jefferson Rueda disse, ter bar e restaurante é doação de sangue. Eu acredito.

Pela primeira vez comi um prato, já que sempre fui à noite e acabava petiscando. De entrada, fritada do rio e do mar (à dorê, não sou das mais entusiastas) com um molhinho de gengibre. Depois, fui de picadinho, o carro-chefe da casa. E estava gostoso, mas me arrependi por não ter pedido o frango com quiabo, que há dias estou com desejo, e que não reparei que tinha no cardápio. Bem, já tenho motivo para voltar!

Janaína Rueda: novos pratos no cardápio

A casa reformulou o menu e está com novidades como a língua ao molho madeira servida com purê de batata, a omelete com queijo e tomate e o camarão com chuchu, além da panelinha de carne louca que agora acompanha o couvert (um mimo). Janaína contou que foi acrescentando os pratos conforme os clientes foram pedindo, mas que não conseguiu tirar nada do cardápio porque simplesmente tudo tem saída. Fora que os freqüentadores aos poucos ficavam sabendo da mudança e praticamente a ameaçavam “não vai tirar a rabada né?”, “nem pense em parar de fazer as almôndegas”. E a Dona Onça achou por bem manter tudo.

Asteriscos indicam novidades

Mas hoje o ponto alto mesmo foi a bebida (olha que coisa!) e a sobremesa. Logo eu que não sou do doce. Confesso que quando a Janaína disse que ia pedir uma Água de Valência pra gente experimentar pensei que bebida àquela hora, com aquele calor, em plena metade do dia, não ia ornar. Mas como ornou! O drinque vem numa jarrinha, como uma sangria, e é feito com espumante, gin, maracujá e morango picado. Perfeito para um dia de calorzão.

Já o grand finale foi uma receita de cartola que o Jefferson resolveu dar aquela modernizada. E o prato chega que é a coisa mais linda: fatias de banana-da-terra fritas que, dobradinhas, formam um envelope recheado por creme de queijo-de-coalho, salpicadas por canela e com chocolate em pó ao lado (peneirado sobre dois talheres, que ficam com a imagem “vazada” no prato). Nas palavras do chef “a mistura improvável que deu certo”. E deu mesmo, além da apresentação fofa. Pena que não fotografei.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

De volta à ativa

Depois de uma tentativa (falida) de manter um blog na época da Folha, resolvi ressuscitar o La Movida em versão 2009.

O primeiro post é aquela coisa meio papo de elevador, apresentações e tal, e como não tenho tino para a coisa, vou logo explicado a que viemos. La Movida, e estou falando agora da expressão e não do blog, se refere ao hábito dos espanhóis, em especial os de Madri, de transitar por vários restaurantes, bares e tabernas em uma só noite. Na verdade, para o ato de circular diz-se "ir de tapas" - comer as famosas porções ibéricas de mesa em mesa, tomando cerveja ou vinho. Toda essa movimentação, somada à vida noturna nos clubes (e uma coisa leva a outra, bem sabemos...) ficou conhecida nos anos 80 por "la movida". O termo ficou mais conhecido depois de divulgado por artistas que retrataram a época, como o cineasta-e-ex-baladeiro Pedro Almodóvar.

Não, não sou saudosista. Nem tenho o Almanarque Anos 80 (nada pessoal). Mas acho que La Movida é um bom nome para resumir o que será falado aqui. Além de poder prestar aquela homenagem a mamá, los abuelos e toda as gerações da família que, exceto a minha, nasceu lá na península do jamón serrano. (Ai, o jamón...)