segunda-feira, 6 de abril de 2009

A melhor parrilla de Buenos Aires – ou La Cabrera X Miranda

É impossível não ter uma verdadeira intoxicação de carne vermelha quando se viaja para Buenos Aires. Pelo menos para pessoas bem carnívoras, como eu. E é uma orgia alimentar muito satisfatória: não tem jeito, a carne dos caras é melhor e ponto (tanto quanto somos melhores no futibas e ponto).

E por conta dessa superioridade do boi, qualquer parrilla de bairro deixa nós brasileiros felizes da vida, com a sensação de que aquele foi “o churras do ano”. Como não sou iniciante em terras portenhas, quis ir além. Qual seria a melhor parrilla de Buenos Aires? Era essa que eu queria comer em minha mais recente visita.

Um certo boca-a-boca e três guias consultados depois, havia, não uma resposta, mas um embate a ser resolvido. Diz que o La Cabrera é o preferido dos tradicionalistas, mas que o Miranda, freqüentado por playboys, serve uma carne tão boa quanto, ou melhor. Na dúvida, fui aos dois.

La Cabrera




São duas casas idênticas em uma mesma rua em Palermo, já que a primeira não dava mais conta do público. Em ambas, o ambiente é agradabilíssimo: salão pequeno, decoração informal e bem over, cacarecos pendurados, escritos nas lousas. Fomos na filial e sentamos na calçada.

Cada corte (de cerca de 400g) sai por, em média, 40 pesos e pode ser compartilhado. O garçom sugeriu honestamente que não escolhêssemos nenhuma guarnição, apesar das várias opções do menu. “A carne já vem com vários pequenos acompanhamentos”. “Vários” não foi força da expressão, foram treze potinhos que chegaram à mesa com molhos, chutneys, legumes, batatinhas e uma cesta de pães.

Alegria, alegria. Mistura de “picadas” com churrasco – um belo ojo de bife feito no ponto pra mal passado, conforme havíamos pedido. Serviço cordial e sem frescura. E a conta, com cervejas incluídas, deu R$ 50 por pessoa, um valor cada vez mais impossível de se pagar por uma boa refeição (com cerveja, então, nem se fala), em São Paulo.



Miranda

A casa era tudo o que guia Wallpaper tinha dito: o salão amplo, pé direito e-nor-me, decoração moderninha, garotos saídos das quadras de tênis, meninas com cachorros cuti-cuti comendo salada (sem carne). Eu ainda tinha dúvidas sobre o que o guia queria dizer com a frase “os garçons são intangíveis”. Logo entendi. São aqueles garçons novinhos, mais pra bonitinhos que para eficientes, que te deixam um tempão abanando a mão até que resolvem te atender. Também são aqueles dotados de uma certa falta de noção. Quando perguntei sobre que cerveja era aquela listada no cardápio, ele logo respondeu fazendo uma careta: “é uma cerveja artesanal, mas eu acho horrível”. Pedi exatamente aquela.






Mas, no que importa, a carne, o Miranda pareceu impecável. Os cortes têm o mesmo preço do Cabrera, mas são individuais, e os acompanhamentos são pedidos à parte (30 pesos uma salada enorme para até três pessoas, 15 pesos uma abóbora recheada com queijo fundido), o que torna a conta bem mais salgada que no seu concorrente. Mas o bife de chorizo e o lomo estavam sensacionais – com certeza o meu “churras do ano”.

Mas aí a gente vê que uma visita só não basta para você sacar o padrão de um restaurante. Dois dias depois, a vontade de comer aquela carne maravilhosa de novo vez bateu a de conhecer outros lugares. Rumamos para lá, certos de que tudo se repetiria, mas que nada! As duas carnes vieram passadas e até queimadinhas por fora. O meu cordeiro da patagônia não estava melhor que algum criado em Catanduva. E os garçons...mais intangíveis que nunca.





Tudo isso para falar que, em termos de parrilla, vale mais seguir a turma dos tradicionalistas - ao menos se sua intenção for realmente comer.

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La Cabrera - Cabrera, 5.099 e 5.127, Palermo Viejo

Miranda - Costa Rica, 5602 , Palermo Hollywood


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Para quem vai a Buenos Aires e não tem guia impresso, uma boa ferramenta para planejar incursões gastronômicas é o site do crítico Vidal Buzzi.

7 comentários:

Tiago Maranhão disse...

O intangência dos garçons e a presença maior de turistas contam pontos negativos pro Miranda. Sem falar que a carne veio menos "jugosa" do que o pedido. Mesmo assim foi meu "churras do ano". Ainda não fui, mas já gostei mais do La Cabrera!

DPJ disse...

Uma mulher tão linda e que adora carne vermelha.... vc não existe. Parabens por me deixar com vontade de viajar pra provar os prazeres da carne.

Lucio Lemos disse...

Adoro o Miranda e já fui várias vezes. Nunca fiquei insatisfeito, sendo que até pancho comi lá. Agora o problema dos garçons é crônico. rs...

abs!

Constance Escobar disse...

Dica anotada. Volto a Buenos Aires mês que vem e essa dúvida pairava sobre minha cabeça...

Flamingo em Festa disse...

Lucio, pelo visto a carne boa e os garçons péssimos são uma unanimidade!

DPJ obrigada. Mas não vejo nada de especial no combo beleza + carne. O Sul está cheio de moças tão lindas quanto carnívoras.

abraços

Repórter Cultural disse...

E não somente nos bairros nobres de Buenos se come boa carne. Dica boa é parar nos variados botecos, que, além do preço mais acessível, oferecem boa gastronomia. San Telmo, por exemplo, é ótima opção.

Unknown disse...

obrigada por todas as dicas! Estou agora mesmo indo ao La Cabrera! Gracias! Haha